As desordens respiratórias do sono merecem grande destaque quando se fala em redução da qualidade do sono na criança. O cirurgião dentista tem apresentado um papel fundamental na identificação e encaminhamento das crianças com desordens do sono, já que alterações craniofaciais ou mesmo oclusais podem estar associadas às mesmas e, portanto, devem ser identificadas pelo profissional. A apneia obstrutiva é a mais grave entre as desordens do sono e por isso a importância de entender seu impacto na qualidade de vida da criança.
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada por repetidos episódio de obstrução das vias aéreas superiores durante o sono. Na criança, diversos laboratórios do sono já consideram apneia quando há pelo menos um episódio de obstrução respiratória por 6 segundos, onde a criança literalmente para de respirar.
O que vamos abordar:
- Ronco NÃO significa apneia obstrutiva do sono (AOS)
- Aspectos craniofaciais associados à AOS
- Paciente Face longa
- Deficiência Maxilar transversal
- Retrognatismo Maxil
- Retrognatismo Mandibular
Ronco X Apneia
Ronco NÃO significa apneia obstrutiva do sono (AOS)
O ronco pode ser considerado como primeiro espectro entre as desordens do sono. De maneira geral, o ronco é considerado benigno, consistindo apenas na resistência da passagem de ar. No entanto, o ronco também pode ter impacto negativo na qualidade de vida da criança, podendo levar a microdespertares ou mesmo redução do rendimento escolar e não deve ser considerado “normal”.
De acordo com o estudo de Albert M Li e colaboradores, cerca de 1/3 das crianças que apresentam ronco primário evoluem para um quadro de AOS em um período de 4 anos, sendo que 7% dessas apresentam quadros moderados ou severos. Os autores observaram ainda que a obesidade é um fator de risco importante para progressão da doença, o que reforça o aspecto do tratamento multidisciplinar dessa desordem do sono.
Aspectos craniofaciais associados à AOS
A AOS possui etiologia multifatorial, sendo normalmente associada a fatores que implicam em redução do espaço aéreo nasofaríngeo. A redução das vias aéreas pode estar relacionada a fatores craniofaciais (dimensões do tecido esquelético da face), língua grande ou retroposicionada, gordura faríngea aumentada ou tecidos linfoides hipertróficos (particularmente adenoides e amígdalas hipertróficas). Entre as alterações morfológicas relacionadas ao complexo craniofacial que podem estar associadas à AOS, podemos citar: pacientes com padrão face longa, deficiência maxilar transversal, retrognatismo maxilar e retrognatismo mandibular.
Paciente Face longa
Os pacientes com padrão de face longa são aqueles pacientes dolicofaciais desequilibrados, onde o terço inferior da face está aumentado em relação ao terço médio. O padrão de face longa é predominantemente genético, porém suas características faciais predispõem ao desenvolvimento de desordens do sono.
Deficiência Maxilar transversal
A atresia da maxila, ou deficiência maxilar transversal, também é uma característica morfológica que pode predispor ao aparecimento de desordens respiratórias do sono. De acordo com a literatura, a expansão rápida da maxila pode reduzir os índices de apneia a longo prazo. Porém, não há um consenso sobre a indicação do procedimento em pacientes que não apresentam atresia maxilar transversal.
Leia mais sobre o diagnóstico da atresia maxilar transversal.
Retrognatismo Maxil
O retrognatismo maxilar é caracterizado pela deficiência do terço médio da face, normalmente associado a pacientes Classe III esquelética, onde o tratamento ortopédico será importante para estimular o crescimento anteroposterior da maxila através de estímulos nas suturas do terço médio da face. A protração da maxila promove um aumento nas dimensões da nasofaringe, o que pode contribuir para redução dos índices de apneia.
Retrognatismo Mandibular
O retrognatismo mandibular é caracterizado pelo posicionamento da mandíbula para posterior, normalmente associado a pacientes Classe II esquelética.
O cirurgião dentista pouco consegue trabalhar no estímulo de crescimento mandibular de forma significativa. Contudo, as intervenções ortopédicas buscam melhor posicionamento mandibular, refletindo em melhora na relação anteroposterior da mandíbula e contribuindo para redução dos sinais da apneia obstrutiva do sono.
No que se refere aos fatores relacionados à morfologia craniofacial, cabe ao cirurgião dentista o diagnóstico dos mesmos, contribuindo muitas vezes na conduta terapêutica de pacientes com AOS. Porém, é importante ressaltar que o tratamento do paciente com AOS deve ser visto de forma mais ampla, muito além dos aspectos envolvidos na cavidade oral. A conduta terapêutica individualizada será definida pela equipe multidisciplinar composto também por médicos otorrinolaringologistas, pneumologistas, nutricionistas, fonoaudiólogos ou mesmo psicólogos, além do cirurgião-dentista.
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Referências:
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Chaput JP et al. Systematic review of the relationships between sleep duration and health indicators in school-aged children and youth. Appl Physiol Nutr Metab. 2016; 41.
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Camacho et al. Rapid maxillary expansion for pediatric obstructive sleep apnea: A systematic review and meta-analysis. The Laryngoscope. 2017; 127(7): 1712-9.
Garib D. e Naveda R. Apneia obstrutiva do sono em crianças, o papel do ortodontista. In: 12 Congresso Internacional da ABOR. Curitiba-PR: Editora Plena; 2019, p.39-45.
Por Juliana Pereira.
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