O relato do bruxismo infantil é cada vez mais frequente entre as queixas dos pais durante a primeira consulta odontológica. Dentre todas as questões que envolvem esta complexa rede de diagnóstico e tratamento, também devemos considerar as consequências esperadas do bruxismo infantil, assim como seu impacto na disfunção têmporomandibular (DTM). Afinal, a presença do bruxismo infantil aumenta as chances de DTM? O que a literatura diz à respeito?
A prevalência do bruxismo relatada na literatura varia muito, com índices de 3,5 a 40,6% conforme o local e a metodologia utilizada no estudo. A medida que a prevalência sobe e o diagnóstico fica mais preciso, as consequências do bruxismo também ficam mais evidentes. Em busca de respostas para a possível associação entre bruxismo e os distúrbios envolvendo os músculos mastigatórios, articulação temporomandibular e estruturas – disfunção temporomandibular (DTM) – em crianças, pesquisadores realizaram uma revisão sistemática sobre o tema, com crianças de 3 a 12 anos.
Primeiramente, vamos relembrar o que pode gerar a DTM?
Alguns fatores podem predispor ao desenvolvimento de DTM, o mais relevante é o trauma, direto (macrotrauma), indireto (microtrauma), fatores psicossociais, como ansiedade e depressão, e fatores fisiopatológicos, como doenças sistêmicas degenerativas, neurológicas e reumatológicas.
Uma das explicações para a correlação DTM X Bruxismo, é que a sobrecarga muscular pode gerar diminuição microcirculação local, isquemia, e por consequência dano e/ou dor. Embora o bruxismo deva ser cuidadosamente avaliado, a relação direta com a DTM pode gerar uma falsa relação, levando erroneamente ao clínico supor que se há bruxismo, haverá em breve uma DTM, porém essa relação direta não é verdadeira… Muitos são os fatores de confusão envolvidos e desconsiderar os fatores individuais, talvez seja um dos grandes equívocos ao fazer diagnóstico de DTM na clínica.
No estudo publicado por Oliveira et al, crianças com bruxismo apresentaram quase 3 vezes mais chances de apresentar DTM em relação às crianças que não apresentavam bruxismo. Sendo assim, diante do diagnóstico do bruxismo, há um risco aumentado para a DTM.
Confira também a relação entre o “estresse” familiar e o bruxismo infantil.
Embora o estudo tenha alto risco de viés, cabe a nós na rotina clínica intensificar este acompanhamento nos pacientes bruxistas, além de melhorar o diagnóstico do bruxismo infantil, pois muitas vezes suas características passam despercebidas no exame clínico ou mesmo na anamnese.
Devido à complexidade do tema, é importante que o clínico se mantenha atualizado, ainda que as pesquisas não nos tragam resultados consistentes para que assim possamos definir nossa prática clínica baseada em evidências.
Abraços.
Referência:
Oliveira Reis L, et al. Association between bruxism and temporomandibular disorders in children: A systematic review and meta-analysis. Int J Paediatr Dent. v. 29, n. 5, sep, 2019. doi: 10.1111/ipd.12496.
Por Juliana Pereira.