Diante da dificuldade de obter colaboração do paciente frente ao atendimento odontológico, o cirurgião dentista ou odontopediatra podem lançar mão de uma técnica de manejo não farmacológica em odontopediatria que pode lhe ajudar durante a consulta: o comportamento. No post abaixo iremos abordar as técnicas de manejo comportamental comumente citadas na literatura:
- Comunicação verbal como técnica de manejo
- Dizer-mostrar-fazer
- Controle de voz
- Reforço positivo
- Distração
- Use modelos como técnica de manejo
- Mão-sobre-a-boca
- Contenção física também é técnica de manejo
A técnica de manejo não farmacológica em Odontopediatria, as comportamentais, são utilizadas a fim de gerar segurança e tranquilidade durante o atendimento”, com certeza você já sabe disso, certo?
Mas minha pergunta é: qual técnica realmente funciona ou qual devo me aprimorar para melhorar meu atendimento? Para responder essa pergunta, resolvi listar as técnicas e descrever como exatamente eu faço no meu dia a dia, vai que isso te ajuda, não é mesmo? Vamos lá!
1. Comunicação verbal como técnica de manejo
Para mim, essa é a técnica mais importante, considerada o “mandamento um” da odontopediatria. A explicação sobre procedimentos odontológicos deve ser realizada antes, durante e depois do atendimento.
Antes da realização do procedimento – aqui nos referimos ao dia da primeira consulta odontológica;
Durante a execução do procedimento – no dia do atendimento propriamente dito, explicando o passo a passo do que será realizado;
Após a realização do procedimento – aqui a comunicação verbal entra como reforço positivo; nos dias de retorno e na hora dos brindes.
Ou seja, toda hora!
Embora hoje em dia temos muitas opções de distração, principalmente através da utilização de equipamentos tecnológicos como tablets e televisão, não há nada mais fácil do que literalmente explicar os procedimentos para uma criança. Eu, por exemplo, não tenho televisão, tablets ou óculos especiais, porém não sinto a menor falta disso no meu dia a dia. Minha conversa com a criança é constante, basta usar nossa imaginação!
Resumindo: converse o tempo todo com seu paciente! Mas lembre-se “O TEMPO TODO”.
2. Dizer-mostrar-fazer
Esta técnica eu uso exatamente junto com a primeira, ou seja, a comunicação verbal sempre vai junto com “mostrar os instrumentais”, mostrar o grampo, mostrar o dique de borracha.
Isso tudo você pode utilizar em um modelo (exemplo: boneco com arcada, igual a foto desse post, gentilmente cedida pela Escovação e Diversão), ou com a criança mesmo fazendo ela se ver no espelho durante o procedimento.
Resumindo: não há explicação teórica sem a prática e tenha sempre um espelho!
3. Controle de voz também é uma boa técnica de manejo
Confesso que essa técnica é uma das técnicas mais difíceis para explicar, pois o momento exato do controle de voz eu “sinto” na hora, mas uma coisa é importante e pontual: “uma única vez”!
O que significa isso? Significa que quando eu uso o controle de voz eu tenho em mente que vou usá-lo pontual, uma vez, imediato, sendo esta minha única opção depois de todas as outras duas anteriores terem sido feitas.
Mas vou tentar (tentar porque acho bem difícil explicar em texto corrido) exemplificar situações que antecedem este momento e assim você consegue lembrar se já passou por isso ou não e se pode começar a aplicar em sua rotina.
Exemplo: paciente não está chorando e deixa atender até uma certa parte (depois coloca a mão na boca); paciente não chora mas fica dizendo “ah esse não quero”, “ah esse não”, “ah isso não gosto”; paciente “vai e volta” na opinião (ele parece saber que está no comando).
Resumindo: controle de voz só depois de já ter feito comunicação verbal e dizer-mostrar-fazer e mesmo assim precisamos ser pontual e objetivo!
4. Reforço positivo
Ahhh esse é fácil, não é mesmo? Essa Técnica de manejo não farmacológica em Odontopediatria baseia-se em reforçar positivamente uma ação ou comportamento da criança toda vez que ela “deixou” você fazer o que foi proposto. Mas lembre-se, não necessariamente você vai terminar o tratamento, porém se você atingiu o objetivo, feito!
Importante: cada criança tem seu tempo, seu limite, suas inseguranças e por isso sugiro você ir passo a passo com as crianças mais inseguras/imaturas/ansiosas/medrosas.
Uma sugestão é dividir as consultas iniciais nem que seja a profilaxia, isso mesmo, faça 2,3,4 ou até 5 profilaxias até conseguir uma confiança e bom comportamento da criança antes mesmo de precisar usar a técnica de controle de voz.
E outra dica importante: os presentes do reforço podem ser os mais simples que tiver, pois pra criança o que importa é a ação e o quanto foi valioso e desafiador ela ter vencido seu medo e concluído o trabalho com sucesso e não necessariamente o valor monetário do brinde.
Resumindo: reforce sempre que possível a ação positiva da criança, tenha mais paciência que ela e divida as consultas, e o brinde pode ser uma luva ou balão (simples e com amor!).
5. Distração como técnica de manejo
Uma frase rápida, direta e objetiva que resume a aplicação dessa técnica: “faça o tempo todo”.
Nessa técnica você pode lançar mão de várias opções: ligar a televisão, usar os tablets, óculos 4D… Mas eu particularmente (como já comentei antes), não uso nada disso.
Eu uso apenas minha voz (conto histórias, crio histórias pra ir guinando a imaginação da criança para longe, canto música… Enfim, uso a boa e velha conversa!) e a sedação consciente com óxido nitroso. Isso mesmo, querendo ou não, este tipo de sedação faz o paciente “não querer prestar atenção em nada e simplesmente relaxar” (até porque uma das indicações da utilização desta sedação é justamente para pacientes ansiosos).
Resumindo: leia histórias infantis, assista filmes infantis e use a imaginação. E, faça sua capacitação em Sedação Consciente com Óxido Nitroso e Oxigênio que garanto que não vai se arrepender.
6. Use modelos como técnica de manejo
A técnica de manejo de modelação pode ser utilizada apresentando à criança um modelo (um bom exemplo), como o irmão/primo/amigo ou até mesmo com a mãe/pai/responsável que esteja acompanhando a criança.
No meu consultório tem 4 cadeiras sem divisórias e todas as crianças “se encontram” ali e observam o comportamento uma das outras. Já sei o que você está pensando: “então é pior, pois quando uma chora, todas choram!”.
Pois te digo que é justamente ao contrário: quando uma criança não colaboradora observa outra criança super colaboradora, ela quer imitar e aí vira o jogo: todos querem ser bonzinhos!
Dicas para você que não tem esta possibilidade de várias cadeiras:
- Coloque fotos de outras crianças sendo atendidas no painel do consultório,
- Coloque uma TV com vídeos dos seus atendimentos,
- Envie um material para a mãe ler em casa sobre o que vai acontecer na próxima consulta.
Resumindo: somos responsáveis pela primeira impressão da criança, faça o seu melhor! Clique aqui para ir direto ao curso de Manejo da professora Bianca. No material de apoio tem um vídeo pronto para colocar na sua sala de espera.
7. Mão-sobre-a-boca
Bem objetiva? Eu não faço essa técnica e não recomendo utilizá-la. Hoje em dia temos várias outras técnicas que podemos utilizar sem precisar fazer literalmente “uma mão sobre a boca da criança”.
Resumindo: não indico a utilização dessa técnica.
8. Contenção física também é técnica de manejo
Essa técnica sim é utilizada e quando bem indicada também pode ser super válida, porém hoje em dia é conhecida mais por “estabilização protetora”.
A técnica tem o objetivo de restringir fisicamente os movimentos impróprios do paciente infantil na intenção de viabilizar o tratamento odontológico com máximo de segurança possível pois os movimentos podem ser perigosos uma vez que estamos utilizando instrumentais muitas vezes afiados.
Essa estabilização pode ser feita parcialmente ou totalmente, fazendo-se o uso de diversos meios e aparatos como: mãos, cintos, fitas e envoltórios de tecidos.
Mas lembre-se que não se aplica a todos os tipos de crianças, a literatura aponta que deve ser empregada nos pacientes menores de três anos de idade que não cooperam e possuem um grau mínimo de maturidade, naqueles com algum tipo de deficiência mental que também não colaboram ou naqueles com alguma deficiência física que impossibilite o manuseio.
Tendo-se em vista o intuito de minimizar possíveis riscos de acidentes durante o atendimento e também proporcionando, desse modo, um atendimento seguro e de qualidade.
Podendo ainda ser aplicada em crianças menores em situação de urgência odontológica, dispensando assim o uso da técnica de anestesia geral para um tratamento único e pontual.
Outro detalhe bem importante: é necessário o consentimento por escrito detalhado dos pais, por favor, não esqueça disso!
É oportuno avaliar o nível de cooperação da criança antes de escolher qualquer que seja a técnica de manejo comportamental, e vale ressaltar a importância da participação dos pais no consultório odontológico durante o atendimento na primeira infância.
Pois nessa fase o afastamento entre a criança e seus pais pode gerar angústia ou potencializar o medo, o que impede a cooperação e evolução das suas técnicas de manejo.
Segue abaixo uma referência em português e de fácil leitura caso querias tirar um tempo e ler um artigo científico sobre o tema. Boa leitura!
Referência: Técnicas de Manejo comportamental não farmacológica na odontopediatria, Rev. Odontol. Univ. Cid. São Paulo 2016; 28(2): 135-42,mai-ago.
Por Carla S. Pereira.